quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Depois da Chuva

"Quando a chuva chega, ela não vem sozinha, traz consigo minhas melhores e piores lembranças. Expõe a sensibilidade de um sentimento e de uma situação que nunca tive, ou vivi. Meus medos e minha imaginação ficam soltos correndo pelo quarto atrás de mim. Escuto o barulho dos pingos que caem cada vez com mais força, como se o céu fosse ficando mais alto, tomando conta das galáxias que não conhecemos. A chuva abre buracos no chão, nas estátuas dos jardins e por toda a parte que cair. Não sou imune, gostaria, mas procuro não vê-la mais através do vidro da janela, que fica manchada por conta dos pingos que respingam como se estivessem procurando alguém.

A chuva deixou de ser meramente um fenômeno da natureza para se tornar em um símbolo de casais apaixonados: um filme a dois, um namoro, uma relação apetitosa, um descanso com mais proximidade entre dois corpos. Mas e depois? Volta a ser como antes, que o antes também seria o depois. Ela, a chuva, mal educada que é, só avisa no dia que chega, acontece, faz o que tem de fazer, se despede, e vai embora. No entanto, sabemos, ela sempre voltará.

Os dias e noites sem água caindo dos céus são mais longos, por isso são comuns. Eles fazem parte da nossa rotina. A chuva - mais uma vez ela - se destaca por ser diferente,  lava a alma renovando nossas energias. Na cidade grande, também serve para limpar a sujeira que há nas ruas, na fachada dos prédios, mas é uma pena também não lavar os corruptos.

Depois da chuva, o clima entra em equilíbrio, fica mais harmonioso. Aparecem pássaros de todos os cantos para se alegrar e acabar com a festa das pequenas mariposas. As flores, com cores mais alegres, se erguem para agradecer o bem que receberam. As pessoas saem das “tocas” de onde estavam, parecendo animais com medo de se molharem, para seguir o caminho: o trabalho, a casa, o mercado, o hospital, o restaurante...

Depois da chuva nada muda radicalmente. Continuo a ver ela a cair do céu, passando pelo ar poluído por carros parados no transito e motor ligado, com o som das buzinadas cada vez mais altas, como se só houvesse um indivíduo atrapalhando a passagem dos demais querendo chegar logo em casa, pois estar dirigindo em ritmo de lesma há mais de uma hora.

Passe chuva, passe sol; dia ou noite, a minha janela verá mais coisas do que eu; sentirá mais do que eu; verá mais pessoas. Terá mais companhia e ainda não vai ser julgada, a não ser pela chuva que quer entrar em meu quarto para me perseguir, assim como fazem meus pensamentos e meus tormentos."                                   

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